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BEFORE SUNSET (2004)



What if you had a second chance with the one that got away?

O romance é, indiscutivelmente, o meu género de filme preferido (e, ironicamente, o mais difícil de analisar). Afinal, é necessário termos em conta um grande número de critérios: o enredo, as personagens, a química entre os atores principais, a banda sonora. Parecendo que não, o romance é um dos géneros que mais peca na medida em que pode desiludir muitos dos seus espectadores, mas também o que mais atrai e emociona, uma vez que é inevitável não nos identificamos com pelo menos um aspecto. Em suma, o amor é algo que surge nas nossas vidas e se torna eterno; e o facto de se caracterizar como um sentimento tão forte e único faz com que seja muito complexo de o explicar. Assim, e de forma a celebrar o tão aclamado Dia de S. Valentim, decidi escrever uma crítica especial da sequela daquela que é a minha trilogia preferida de sempre.


Desta vez, o filme toma lugar em Paris, nove anos depois da última cena, onde reencontramos Jesse, que está na tour promocional do seu livro - e que narra, justamente, a sua história de amor em Viena, - e Celine, que lhe faz uma visita ao saber do sucedido. Prestes a separarem-se de novo, os dois decidem passar o resto da tarde juntos na cidade e facilmente nos começamos a aperceber que as emoções sentidas há quase uma década atrás só se tornaram ainda mais intensas.


Contrariamente a muitas trilogias e outros filmes divididos em várias partes, Before Sunset revelou-se ainda mais proclamado pelo público do que Before Sunrise. E é certo que não é, de todo, difícil descobrir o porquê: além de ser extremamente fiel à história original, os seus diálogos evidenciaram mais maturidade e a sua narrativa tornou-se ainda mais realista, com cenas dolorosas de assistir mas completamente verdadeiras. Todos estes pormenores protagonizados por uma química inigualável entre Ethan Hawke e Julie Deply que, mesmo não se tratando do primeiro filme juntos, procuraram manter toda a essência captada há uma década atrás, nunca perdendo o carisma e o significado presentes anteriormente.


Richard Linklater tem uma particularidade nos seus filmes que eu aprecio muito, não só na trilogia Before Sunrise, como em outros filmes da sua autoria como Boyhood: a sua fluidez ao longo dos anos. Gravar cenas de forma gradual e durante décadas é de uma natureza extremamente complexa e pouco provável; no entanto, eis que temos uma trilogia que demorou 18 anos a ser concluída e que nunca perdeu o seu verdadeiro significado, continuando a comover e encantar milhões de espectadores. Sempre entendi o seu método como uma forma de acompanhar a mudança e o amadurecimento dos personagens enquanto nós próprios crescemos e mudamos. E aquilo que mais me agrada é exatamente o facto de eu mesma ter crescido ao assistir cada um dos filmes, aprendendo sempre algo novo com cada um deles. No caso de Before Sunset, creio que aprendi que quando realmente se ama, arranja-se sempre uma forma de voltarmos a ver a pessoa, nem que isso leve uma década. Porque toda a trilogia é uma das mais belas e puras formas de retratar aquilo que consideramos a verdadeira definição de amor; sem muitos clichês, sem muitos momentos irreais, sem muitas cenas que só acontecem na ficção. Neste filme, não se retrata mais do que a agradável (e derradeira) realidade e, contrariamente ao que se pensa, é a característica que mais se valoriza.


[AVISO: SPOILER]

E se o filme começa com a memorável promoção de um livro com toda a história narrada, acaba exatamente da mesma forma mas com uma canção, cantada pela voz serena de Julie Deply (e que, com certeza, superou todas as páginas do livro de Jesse). A Waltz for a Night foi a música escolhida por Celine para demonstrar aquilo que aquela noite significou, tornando-se facilmente numa das minhas declarações de amor favoritas de sempre. Poucos casais do cinema transmitem a empatia que Jesse e Celine possuem, principalmente pela sua inigualável cumplicidade e o facto de partilharem personalidades tão distintas e ao mesmo tempo tantos traços com os quais ambos se identificam. E o facto de, independentemente do número de anos passados, a sua capacidade de reflexão em assuntos variados nunca ter mudado é algo que nos comove e alivia por sabermos que nada mudou (apesar de - no fundo - tudo ter mudado).


Os pontos altos do filme situam-se precisamente nas cenas de clima mais intenso, nas quais Celine revela a sua frustração ao reconhecer o fracasso que a sua vida amorosa se tornou; afinal, ela nunca conseguiu manter uma relação por muito tempo e o facto de ter desperdiçado a melhor oportunidade com Jesse fá-la sentir abatida com a sua própria vida. O mesmo aconteceu com ele, que acabou por ter um filho, tornando-se na principal razão pela qual escolheu não abandonar a relação atual que mantém em Nova Iorque.



Acima de tudo, Before Sunset é um filme que retrata a decadência e a frustração das relações falhadas. O receio de estarem a tomar decisões precipitadas a partir de um casual encontro em Viena e o medo de arriscarem por não saberem o que o destino lhes reserva é algo que, muitas vezes, presenciamos nos outros e até mesmo em nós próprios. No final de contas, quantas vezes optamos por não fazer aquilo que realmente queríamos com medo de não dar certo? Quantas vezes perdemos mais tempo a pensar nas eventuais consequências do que a tomar a decisão final? São estes pensamentos que contribuem para a pressão do tempo, que se sobrepõe sobre o momento e nos impede de viver. E se pensarmos bem...não será este o verdadeiro significado de amor? Termos medo de o consentir mesmo estando a observá-lo à nossa frente?


Before Sunset é assim a prova real de que duas pessoas podem mesmo estar destinadas, revelando um caráter de tal forma real e, de certa forma, doloroso que espanta. Porque é isto que o amor representa. Uma dor necessária. E mal sabem vocês o que o terceiro filme espera...



Informação Adicional:

Direção: Richard Linklater

Elenco: Ethan Hawke, Julie Deply

Género: Romance

Duração: 80 min.

Classificação: 8,5/10

Frase favorita: I always feel like a freak, because I'm never able to move on like... this! You know. People just have an affair, or even entire relationships... they break up and they forget! They move on like they would have changed brand of cereals! I feel I was never able to forget anyone I've been with. Because each person have... their own, specific qualities. You can never replace anyone. What is lost is lost. Each relationship, when it ends, really damages me. I never fully recover. That's why I'm very careful with getting involved, because... It hurts too much! Even getting laid! I actually don't do that... I will miss on the other person the most mundane things. Like I'm obsessed with little things.



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