HER (2013)
- Bianca R. Matos
- 30 de set. de 2020
- 4 min de leitura

Her foi um dos filmes que mais me recomendaram para assistir e avaliar. Já o conhecia pela capa e pelo título em português (Uma História de Amor) e confesso que não me suscitou qualquer curiosidade especialmente pelo título português que dá uma sensação de filme clichê que nada de inovador e interessante tem para nos oferecer. Uma atitude extremamente ignorante da minha parte, pois acabei por me surpreender imenso ao assisti-lo. Eu adoro filmes que misturem sci-fi com romance e Her acabou por se tornar num dos meus favoritos desta junção de géneros, ainda que não esteja no meu vasto top de filmes favoritos.
Com um elenco de luxo, Her conta a história do escritor solitário, Theodore que vive num futuro próximo onde as pessoas comunicam mais frequentemente com sistemas operativos do que com pessoas. Após o fim de um relacionamento amoroso, Theodore descobre um novo sistema de inteligência artificial que se adapta às vivências e emoções de quem o utiliza e fica intrigado ao descobrir que se trata de uma voz feminina que se auto-intitula Samantha. À medida que o tempo vai passando e novas necessidades vão crescendo e aquela que inicialmente parecia uma amizade divertida, acaba por se tornar numa invulgar história de amor.
Inicialmente, ao assistirmos a Her, o espectador tem a impressão de que este é um filme que alerta ao "problema" que as novas tecnologias têm vindo a acomodar nos dias de hoje; tecnologias essas que nos conduzem à ausência de sentimentos e emoções. Todavia, este é, na verdade, nada mais nada menos do que um filme sobre a solidão. A solidão que faz com que não sejamos mais capazes de estabelecer relações humanas e percamos a capacidade de lidar com emoções reais. As marcas profundas que o término de um forte amor nos podem deixar se simplesmente focarmo-nos na dor e esquecermo-nos de viver. E a imensidão da falta de comunicação presente em todo o lado - até mesmo em espaços repletos de multidões. Spike Jonze conseguiu montar um ambiente no qual a solidão invade espaços repletos de pessoas, a falta de sorrisos e diálogos entre amigos, vizinhos ou colegas de trabalho está presente e até mesmo a ausência do olhar que, em determinadas situações, nos pode dizer tanto. Desta forma, o filme poderá suscitar um grande número de questões importantes: Theodore poderia estar mesmo apaixonado pelo sistema operativo? Seria Samantha real? Não passaria somente de um sistema artificial? Poderia ela sentir o que Theodore sente? Será esta uma história de amor válida do nosso entendimento emocional, ou não passará somente de uma confusão na cabeça de Theodore afim de descobrir o que é e o que não é real?

Relativamente às personagens, achei Amy muito interessante. Uma mulher, cujo trabalho está diretamente relacionado com os avanços tecnológicos, acaba por se revelar tão ou mais dependente deles do que o próprio Theodore. Sentimental e conselheira, Amy não consegue seguir os seus próprios conselhos e acaba por se refugiar na sua própria incapacidade de superar um relacionamento amoroso. A sua amizade com Theodore é um dos únicos pontos humanos de toda a história e é destacada pelas fantásticas interpretações de Amy Adams (que possui o dom de incorporar de forma sublime qualquer personagem que lhe é proposta) e Joaquin Phoenix que merecia, pelo menos, uma nomeação pela sua interpretação tão completa e realista do angustiado e vulnerável Theodore. Ao transmitir sentimentos como a solidão ou a sensibilidade, Joaquin interpreta a personagem de uma forma tão impressionante e realista que em algum momento o público começa a acreditar que o amor por um software pode acontecer. Destaco igualmente a esplêndida Scarlett Johansson que apenas com a sua voz rouca e atrativa conseguiu interpretar uma Samantha dominadora, proporcionando ao espectador risos, constrangimentos e mensagens importantes, a maioria delas pertinentes ao vício das tecnologias e as vastas sensações que esta pode vir a absorver se nos deixarmos levar por elas. Através da sua voz, Scarlett interpreta uma Samantha com traços humanos no meio de tanta artificialidade, expressando desejos e revelando sofrimento sem esquecer que jamais se poderá tornar real. Jonze consegue retratar a história amorosa destas duas personagens com uma sensibilidade tal, que em algum momento o espectador começará a questionar-se da veracidade de todos os sentimentos. Afinal, será este amor credível o suficiente para ser igualmente valorizado?
Excluindo o roteiro, a imagem é um dos pontos que mais me atraiu em todo o filme. A vasta paleta de cores coloridas preenche a tela em praticamente todos os cenários, nomeadamente na camisa vermelha de Theodore que, em contraste com a sua alma neutra, predominam em abundância em toda a tela. Talvez tenha sido uma forma original de manifestar as emoções num espaço tão isento e sem vida. A banda sonora, por sua vez, complementa o ambiente presente em todo o filme, transmitindo melancolia e futurismo em cada nota e tornando-se, igualmente num dos pontos fortes de toda a película.

Assim, contido numa pequena mistura entre romance futurista e comédia romântica, Her é um filme que peca precisamente na convencionalidade dos romances atuais, demonstrando algumas cenas habituais em muitos outros filmes, embora demonstre igualmente coesão em todas as cenas, especialmente no final, escrito com tanta amargura mas com tanta inteligência. Não obstante isso, é um filme formidável que retrata as relações que estabelecemos com as pessoas, sejam elas dignas de serem amadas ou não e que, ainda que se trate de um romance futurista, não deixa de retratar acontecimentos tão comuns na atualidade e não apenas na grande cidade de Los Angeles. Uma história intrigante que nos levanta diversas questões e que nos faz duvidar da credibilidade de este sentimento tão complexo a que chamamos "amor". Afinal, apesar de toda esta ascensão tecnológica, será este um filme diferente dos demais ou não passará, na verdade, de uma história sobre a distinção do real e do irreal neste grande mundo onde os sentimentos artificiais cada vez mais preenchem as nossas vidas?

Informação Adicional:
Direção: Spike Jonze
Elenco: Joaquin Phoenix, Scarlett Johansson, Roney Mara, Amy Adams, Chris Patt, ...
Género: Romance/ ficção científica
Duração: 126 min.
Classificação: 8/10
Frase favorita: Sometimes I think I have felt everything I'm ever gonna feel. And from here on out, I'm not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I've already felt.
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