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THE DANISH GIRL (2015)


This is not my body. Please take it away.

Assisti à A Rapariga Dinamarquesa há uns anos, quando ainda não possuía sequer esta paixão pela sétima arte. E sei que este foi um dos filmes que me fez despertá-la: naquele ano não me lembrava de ter assistido a interpretações tão fantásticas e uma história tão bonita. É claro que, atualmente, considero outros filmes muito melhores e reconheço interpretações ainda mais realistas. Mas, por alguma razão, senti-me inexplicavelmente tocada ao assistir toda a película que, por ter duas horas, poderia ser monótona, mas que na verdade revelou ser um filme emotivo, interessante e - com certeza - para recordar. O facto de estar a reescrever esta crítica pela segunda vez comprova a admiração que tenho (principalmente) pelos atores protagonistas. Por essa mesma razão, não consigo compreender como é que o filme recebeu tantas críticas negativas por parte de críticos cinematográficos, particularmente pela sua direção e argumento. Não é, de facto, um dos pontos fortes. Mas não creio que os (poucos) pontos negativos que consegui encontrar façam jus aos vários pontos positivos que se foram revelando ao longo desta narrativa emocionante.


O filme conta então a história verídica de Einar Wegener (que mais tarde viria a chamar-se Lili Elbe) e da sua esposa, Gerda, um casal artista que partilha uma viagem emotiva e desafiante (mais especificamente até à Alemanha) para tornar Einar numa mulher, em plenos anos 20. Assim, Einar tornou-se no primeiro caso de um homem que conseguiu mudar de sexo por meio de intervenção médica. Ora, ao assistirmos ao filme, devemos ter em conta o quão complexa esta transformação foi; uma época cujos avanços tecnológicos e médicos eram pouco eficientes e na qual a discriminação era mais elevada. Podemos ter uma pequena noção do quão sofrida esta viagem pioneira de Einar para mudar de sexo deve ter sido, não só, fisicamente mas também psicologicamente. E durante todo o filme é muito bem retratada essa dificuldade e até confusão - tanto que é possível percebermos a quantidade de psiquiatras que Einar teve que recorrer para que pudesse perceber o que se passava de tão "errado" com ele. Claro que, hoje em dia, é perfeitamente normal e já não há tanta discriminação e intolerância; nos anos 20, porém, nunca se tinha feito algo semelhante, daí ser algo tão estranho.



[AVISO: SPOILER]

Tenho que confessar que as cenas de "desgaste psicológico" de Lili foram as que mais me tocaram, nomeadamente a cena na qual ela admite ter pensado em suicídio. Senti-me emocionada quando soube que ela apenas não o tinha feito porque - caso o tivesse - mataria a melhor coisa que tinha dentro de si e, na verdade, a única que a fazia ter esperança. Eddie Redmayne conseguiu transmitir-nos aquilo que era realmente pretendido e graças à sua interpretação fantástica foi possível vermos a tristeza e a frustração no seu olhar e, mais do que isso, a esperança e o desejo de poder vir a ser aquilo que ela na verdade sempre quis.


No entanto, embora sentisse uma tremenda compaixão por Lili, a personagem que mais me tocou foi Gerda. Aliás, é graças ao retrato da sua relação que o filme proporcionou tanta emoção. Gerda revelou-se uma personagem tão importante como Einar; como se ambos fossem passar pela transformação. E na verdade foram mesmo. A cena na qual Gerda implora a Lili para que traga Einar de volta porque deseja desesperadamente abraçar o marido revela o tamanho sofrimento que esta passou durante todo o processo. É preciso realmente amarmos alguém para pormos a nossa felicidade em último lugar e Gerda sacrificou-se até ao limite; ao ponto de perdoar a traição do marido, ao ponto de nunca o deixar de apoiar em momento algum, ainda que não concordasse com as suas decisões, e ao ponto de nunca o deixar de amar seja ele de que sexo for. É difícil encontrar uma maior prova de amor. Esta mulher é a prova de que o amor existe e é real e eu tenho uma profunda admiração por ela e por tudo o que ela passou sem esperar algo em troca. Uma personagem incrivelmente bem interpretada pela grande Alicia Vikander.



O ponto forte do filme é, sem sombra de dúvidas, o elenco. Particularmente os dois protagonistas que, através de uma química intensa e profunda principalmente nas cenas íntimas, conseguiram interpretar dois personagens extremamente complexos de forma perfeita e incrivelmente realista. Alicia Vikander mereceu, de facto, o Óscar de melhor atriz secundária que revelou um grande potencial ao longo de toda a narrativa. E Eddie Redmayne fez mais uma interpretação do outro mundo. A forma como ele transmitia a dor no seu olhar tocou os corações de qualquer espectador, sendo essa uma das características que eu mais admiro nele e fazem dele um ator tão completo e um dos meus preferidos atualmente. Ele já me tinha conquistado com a sua brilhante prestação em The Theory of Everything (em breve farei uma crítica do filme!) e depois de assistir a este filme só reforçou o seu grande potencial. Se Leonardo DiCaprio não estivesse a concorrer com o The Revenant, o Óscar era dele sem qualquer sombra de dúvidas.


O argumento foi, no entanto, o ponto fraco. Não ao ponto de arruinar toda a história, mas senti algumas cenas forçadas, nomeadamente o próprio final, previsível e pretensioso. Mas fora isso, todo o filme está repleto de paisagens lindíssimas; a fotografia de Danny Cohen enriqueceu toda a história, mostrando todas as paisagens incríveis da Dinamarca baseadas numa paleta de cores frias e neutras, tal como a alma de Lili antes de se submeter à operação. Os planos aproximados realçam igualmente a beleza de todo o filme, tornando-o ainda mais realista e a banda sonora é melancólica mas bonita, ainda que não prenda a atenção do espectador.



Assim, A Rapariga Dinamarquesa é um filme que poderia ter tido maior potencial mas que não são os poucos pontos negativos encontrados que vão estragar o filme em si. As atuações e a história cativam qualquer espectador, tocando-o ao ponto do o levar às lágrimas. Não creio que seja uma verdadeira obra de arte como muitos outros filmes mas a emoção presente em cada cena faz com que seja um dos melhores de 2015. É uma história de amor, sofrimento, mas acima de tudo, é uma história real que faz com que fiquemos a pensar no facto de tudo isto ter realmente acontecido. Atualmente o preconceito ainda é uma coisa real e vivemos num mundo repleto de intolerância. No entanto, não foi isso que impediu Lili Elbe de realizar o seu maior sonho, ainda que se tivesse de sacrificar para a sua concretização. Uma história incrivelmente poderosa com um elenco de luxo e que, ainda que Tom Hooper tivesse a oportunidade de explorar mais fatores, é um filme que deve ser visto e recomendado por qualquer um.


Informação adicional:

Direção: Tom Hooper

Elenco: Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Amber Heard, Matthias Schoenaerts, Ben Wishaw

Género: Drama

Duração: 119 min.

Classificação: 8,5/10

Frase favorita: Last night I had the most beautiful dream. I dreamed that I was a baby in my mother's arms. And she looked down at me, and she called me Lili.

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