REVOLUTIONARY ROAD (2008)
- Bianca R. Matos
- 31 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de ago. de 2020

Hoje trago para o blog um filme que já tem mais de dez anos e que (pergunto-me como) só o vi pela primeira vez há uns dias. Revolutionary Road é um filme baseado no romance de Richard Yates, publicado em 1961, cujos protagonistas são o icónico duo Winslet-DiCaprio. A sua relação é, porém, muito diferente da que tinham anteriormente em Titanic: enquanto no primeiro retratam um casal apaixonado no início da sua história de amor, neste retratam exatamente o oposto, revelando como pode ser frustrante o final de uma relação e como isso pode afetar, não só o fim do amor, como também o fim da vontade de viver.
O filme conta a história de um casal, April e Frank Wheeler que se conhecem numa festa repleta de pessoas animadas e interessantes e rapidamente se tornam num casal "modelo" e admirado por muitos, nomeadamente pelos seus vizinhos e por Helen que consegue arranjar-lhes uma casa na rua Revolutionary. Nos primeiros anos de união, ambos procuram fugir aos ideais de casal, nos quais o homem trabalha para sustentar financeiramente a família e a mulher é uma dona de casa que toma conta dos filhos. No entanto, o espectador capta desde o início do filme que os costumes do casal - aparentemente - ideais e diferentes, não passam de uma fraude e que, no fundo, são tão míseros e vulgares como todos os outros casais: Frank trabalha num emprego que despreza e April é uma dona de casa dos anos 50. Assim, April decide que o casal deve fugir da rotina tediosa a que estão sujeitos, e por isso sugere que se mudem para Paris. Ao longo do tempo, porém, surgem diversas complicações que geram os conflitos e as várias discussões entre os dois, que demonstram a falta de comunicação e a frustração mental ao se terem tornado naquilo que mais temiam.

(AVISO: SPOILER)
O filme foi muito aclamado pela crítica, nomeadamente pela história em si - que é, na verdade, uma crítica à sociedade - e mostra que, se pensarmos bem, o estilo de vida americano não mudou muito desde os anos 50: as pessoas continuam a viver das aparências e a fazer de tudo para ficarem bem vistas aos olhos da sociedade, mesmo que isso signifique abandonar as suas verdadeiras paixões e talentos. O mais importante continua a ser a criação de uma família e o seu sustento. O filme reforça também a fantástica interpretação dos dois protagonistas, particularmente nas cenas de discussão que demonstra o amadurecimento e o profissionalismo de Kate Winslet e DiCaprio desde o seu primeiro filme juntos. Eles conseguiram captar a frustração mental, a raiva, a culpa e a angústia numa só cena e transmitiram todas essas emoções da forma mais realista e impecável possível - o que só prova o quão bons e profissionais eles são como atores.
Achei a personagem John Givings (filho de Helen) muito interessante, por ser um suposto louco que recebe apoio psicológico por ser instável emocionalmente mas que é, na verdade, o único que consegue perceber o quão miserável os Wheelers são como casal, sendo por isso um dos grandes responsáveis pelas suas discussões. Só mostra que as pessoas mais desequilibradas são as que captam melhor a mentira e as que têm mais coragem de dizer a verdade. Achei igualmente interessante os recursos que Frank e April recorrem para fugir à rotina como o desejo de fuga ou a traição. No fundo, eles só pretendem voltar a sentir a paixão que costumavam sentir no início da relação, mas ao se traírem mutuamente, só concluem que o principal entrave foi a incapacidade de voltarem a sentir qualquer emoção.
Mas a cena que mais se destacou, para mim, foi o final no qual Mrs. e Mr. Givings estão sentados a refletir e a comentar o rumo que a vida do casal "ideal" tomou (principalmente após a morte de April) e Mr. Givings desliga o aparelho auditivo para não ter que assistir à hipocrisia da mulher. A definição do casal ideal e a mentira que a envolve foi definida e criada, por existirem pessoas como Helen que julgam e desprezam os comuns e valorizam aquilo que, concluímos por fim, não passa de uma fachada. E foi exatamente isso que se pretendeu transmitir com o final e deu um toque extremamente engenhoso ao filme.

Revolutionary Road é, assim, um filme angustiante que, embora deprimente, é bastante intenso e retrata a mentira que se esconde por detrás das aparências. Os filmes conseguem ser ainda mais interessantes quando mostram a realidade presente nos dias de hoje. E Sam Mendes consegue transmitir isso de uma forma impecável através do roteiro muito bem realizado. É um filme que demonstra o quão fácil é casar com a pessoa errada e quão difícil é separarmo-nos dela. Mas, acima de tudo, é um filme que fala sobre escolhas. A escolha entre uma vida segura e que não apreciamos e uma vida desafiante mas que tem tudo aquilo que sempre desejamos. Os Wheelers escolheram o seguro e mesmo assim fracassaram. Nada é certo e por vezes vale a pena arriscar, nem que seja para voltar a sentir a alegria que é viver.

Informação Adicional:
Direção: Sam Mendes
Elenco: Kate Winsler, Leonardo DiCaprio, Michael Shannon, Kathy Bates, David Harbour, Kathryn Hahn
Género: Drama/Romance
Duração: 125 min.
Classificação: 7/10
Frase favorita: No one forgets about the truth. They just get better at lying.
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