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LADY BIRD (2017)


The only thing exciting about 2002 is that it's a palindrome.

Greta Gerwig possui uma qualidade peculiar na realização dos seus filmes e que poucos realizadores conseguem transparecer tão vivamente: a honestidade. É uma qualidade que qualquer diretor procura aplicar em cada filme que dirige mas que nem todos o conseguem fazer como Greta fez ( inclusive) no seu primeiro filme a solo: Lady Bird, um filme cujo mote principal é a busca da própria identidade e os obstáculos que são necessários atravessar (mas acima de tudo aprender com eles) para a encontrar. Contudo, mais do que uma simples adolescente a caminhar para a fase adulta, o filme retrata a realidade presente nos dias de hoje (ainda que a época não seja recente) nomeadamente entre a relação pais-filhos.


Lady Bird, cujo verdadeiro nome é Christine, é uma adolescente que está no seu último ano de colégio e que tudo o que mais deseja é sair da sua cidade natal, Sacramento, para poder fazer faculdade longe da Califórnia. Até lá, Lady Bird divide-se entre os vários problemas que dividem a adolescência da fase adulta, nomeadamente os estudos, o seu primeiro namoro, os desentendimentos com a melhor amiga e as inúmeras discussões com a sua mãe que rejeita, desde o início, o seu maior sonho.


O filme, mais do que a boa representação ou a história em si, é as personagens: todas elas com uma personalidade forte, única mas sobretudo real. Greta tem a capacidade de criar personagens e respeitá-las como se elas, de facto, existissem. A história não apresenta nada de novo, é um facto que todos nós já assistimos a, pelo menos, um filme que retrata a adolescência (ou o fim dela) e as relações feitas ao longo dessa longa passagem da vida. Porém, as características da direção de Greta colocam singularidade em todas as cenas, tornando aqueles momentos que tantas vezes foram produzidos de diversas formas e feitios em diferentes películas, tão especiais e únicos. É um filme que traça a importância que os pequenos momentos podem ter para o nosso crescimento como pessoas e para o nosso futuro, de forma divertida e aprazível. E é talvez por representar um tema tão habitual nos dias de hoje, que as suas cinco nomeações causaram tanta surpresa (ainda que não tenham sido, de todo, injustas), nomeadamente nas categorias de melhor filme, melhor realizadora e melhor atriz (principal e secundária). Além disso, o facto de se transparecer tão profundamente a vida da protagonista e a sua forte personalidade faz com que sintamos empatia e compreensão por ela, talvez por termos passado em alguma fase da nossa vida os mesmos problemas ou por apresentarmos características semelhantes.



[AVISO: SPOILER]

A fotografia e os ângulos com que esta é tirada reforça o retrato simplista do filme, mostrando uma cidade cheia de pessoas sem vida, com cores tristes e sem contraste, bem como o rápido corte das cenas (que possuem um contraste temporal espontâneo) que realça a impulsividade de Lady Bird e que expressa os pensamentos de uma adolescente que nunca olha para trás e procura sempre por mais, por sentir que não pertence a nenhum lugar. O elenco conta com duas boas atrizes, nomeadamente Laurie Metcalf que representa o papel de uma mãe complicada, exigente mas acima de tudo preocupada e a incrível Saoirse Ronan, uma atriz tão jovem mas que já revela um grande potencial, transmitindo a impulsividade, a incompreensão e o verdadeiro espírito adolescente presente em Lady Bird de forma natural como se não fosse necessário qualquer esforço. Poderia imaginar outras várias atrizes para o mesmo rolo mas não creio que alguma delas nos tocasse do mesmo modo com que Saoirse nos tocou. Tenho a certeza que a cena na qual Lady Bird se atira do carro para evitar discutir com a mãe é uma cena que ficará para sempre marcada para aqueles que assistiram ao filme.


A nostalgia e melancolia são duas características também muito presentes ao longo do filme. Principalmente na cena final, na qual a câmara procura mostrar todos aqueles pequenos detalhes de Sacramento que Lady Bird desprezava por desejar com tanta intensidade afastar-se da cidade e que mais tarde acabam por deixar saudades por se tratarem de lugares que marcaram a sua adolescência e que proporcionaram bons momentos. Ela acaba por perceber que a sua mãe, os seus amigos e a sua própria cidade são os principais elementos que a definem e que contribuíram para o seu demorado (mas visível) amadurecimento.



Lady Bird é, por isso, muito mais do que um simples filme de crises adolescentes. É uma história que fala sobre a complexa relação entre pais e filhos, os problemas presentes numa amizade, a sexualidade, as complicações que esta pode trazer para a família, a depressão, a crise existencial, a primeira vez e todos os desajustes presentes em nós mesmos que, no fim, são encarados como qualidades únicas: o que nunca deixa de ser algo extremamente bom, afinal, mais do que nos orgulharmos das nossas qualidades, devemos assumir os nossos defeitos. E Lady Bird, não só assume os seus defeitos, como os transforma em qualidades, como se fosse dona de uma personalidade única e especial. E de facto, é mesmo.


Os filmes que retratam a realidade, principalmente numa personagem que vive os mesmos momentos que nós, com a mesma idade e com pensamentos semelhantes são, sem dúvida, aqueles que mais me tocam. Filmes que possuem tanta honestidade no seu argumento como se tudo aquilo se estivesse realmente a passar são, de facto, incríveis e o estilo indie americano como tanto gostam de lhe chamar é o estilo que representa tudo isso da forma mais natural possível. É um filme que não procura apressar determinadas alturas da vida da protagonista, dando sempre a mesma importância nomeadamente àquelas cenas que não parecem, inicialmente, ser tão relevantes. Apesar do seu caráter único, possui uma história muito comum com género habitual atualmente, o que faz com que certas cenas não sejam tão peculiares. No entanto, a forte representação e os pequenos detalhes são suficientes para não retirar o caráter poderoso de toda a história. Por isso, Lady Bird é a grande prova de que a honestidade é, sem dúvida, o primeiro passo para criar um filme extraordinariamente belo e real.

Informação Adicional:

Direção: Greta Gerwig

Elenco: Saoirse Ronan, Timothée Chalamet, Laurie Metcalf, Lucas Hedges, Beanie Feldstein,...

Género: Comédia dramática

Duração: 95 min.

Classificação: 7,5/10

Frase favorita: I want you to be the very best version of yourself that you can be.

- What if this is the best version?

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