ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND (2004)
- Bianca R. Matos
- 20 de ago. de 2020
- 4 min de leitura

" Please, let me keep this memory. Just this one. "
Imaginem que, de repente, era possível eliminar todas aquelas memórias que vos atormentam a mente, que vos direcionam automaticamente àquela pessoa que fora, em tempos, especial e que tudo o que ela vos traz de momento é angústia, tristeza, saudade. Imaginem que, por um momento, todas essas memórias ficariam guardadas numa pequena caixa em lugares que nunca poderão encontrar por não se lembrarem sequer de as ter apagado. Imaginem ter a capacidade de escolha entre eliminar (de vez) essas dolorosas memórias ou simplesmente mantê-las convosco para se poderem lembrar que um dia foram felizes com alguém. O que fariam se tivessem essa possibilidade? Questionar-se-iam sobre a importância da respetiva memória? As consequências que a sua supressão traria caso não a tivessem convosco? E mais do que isso: se soubessem que a vossa "pessoa especial" vos tinha apagado da vossa memória...fariam o mesmo?
Todas estas perguntas são levantadas de forma muito sublime e natural no filme O Despertar da Mente (título em português), uma verdadeira obra prima cuja história suscita muitos outros pensamentos que nos fazem questionar até onde as pessoas são capazes de ir para simplesmente deixarem de sofrer. E até que ponto é que nos deixamos afetar por alguém de tal forma para desejarmos com tanta intensidade nunca o termos conhecido. Joel decide seguir em frente com esse processo ao descobrir que o amor da sua vida, Clementine, fizera o mesmo com ele anteriormente. Claro que antes de toda a drama acontecer, existiu uma história de amor entre os dois: Joel e Clementine conheceram-se numa viagem de comboio, nascendo desde esse momento uma química que os prendeu de imediato. No entanto, é do conhecimento universal que nenhum relacionamento vive à base de memórias boas. E, na grande maioria das vezes, as memórias más sobrepõem-se às boas, por mais especiais que estas tenham sido. Joel e Clementine não conseguiam lidar da forma mais correta com esses obstáculos (era, de facto, angustiante assistir à falta de comunicação quando era necessário enfrentar esses problemas). O facto de ambos serem tão diferentes um do outro em diversos aspetos reforçou a incapacicade de diálogo: Joel era um rapaz tímido e reservado enquanto Clementine era uma rapariga energética e extremamente impulsiva que chamava a atenção de qualquer pessoa que passasse por ela ao observar os seus cabelos coloridos. Assim, Clementine decide apagar Joel da sua mente com o intuito de fugir às memórias dolorosas que tinha com ele e Joel ao descobrir o sucedido acaba por fazer o mesmo.

Todavia, ele arrepende-se a meio do processo. E tenta a todo custo avisar os responsáveis pela eliminação das memórias (Mary e Stanley) dentro da sua prórpria mente, desencadeando uma série de tentativas ao longo do filme de forma a avisá-los que o que está prestes a fazer é completamente errado. Enquanto todo este processo está a decorrer, os personagens secundários (interpretados por Mark Rufallo, Kristen Dunst e Elijah Wood) atuam para aprofundar a drama presente e para mostrar o quão errada é a decisão de Joel: afinal, qualquer memória que nós possuamos, por mais profunda que esta seja, é indispensável ao nosso crescimento como seres humanos. A prova disso são as nossas marcas, as nossas manzelas presentes no nosso corpo mesmo depois de todas as tentativas de esquecimento. O sentimento pode ser omitido mas nunca poderá ser apagado.
O filme, para aqueles que gostam de rotular, é uma mistura de ficção científica com comédia e drama, sendo todos estes géneros inseridos no principal, o romance. Grande parte da narrativa conta com transições entre o passado e o presente com algumas cenas de caráter bizarro, outras com um caráter extremamente profundo e outras uma mistura de ambos. Toda a película baseia-se numa paleta de cores escuras e frias de modo a reforçar a angústia e a melancolia presente principalmente nos personagens principais. Michel Gondry e Charlie Kaufman fizeram uma dupla incrível na argumentação do roteiro. Não é fácil mexer entre os temas "amor" e "memória" e os dois conseguiram fazê-lo de forma impecável - não foi por acaso que o filme recebeu o Óscar de melhor roteiro original. É um filme que pode provocar várias sensações, não proporcionando a mesma interpretação em todos os espectadores (o realizador disse, aliás, que pretendia que cada um saísse da sala de cinema com uma visão distinta acerca da mensagem do filme). Além disso, o impacto que esta tem em nós é reforçado pelo fantástico elenco que mudou radicalmente a sua imagem padrão e saiu da sua zona de conforto: Kate Winslet como uma rapariga alternativa e impulsiva e Jim Carrey a fugir ao humor e a mostrar o seu lado mais dramático.

Um filme com uma mensagem incrível, uma história extremamente interessante e com cenas que, com certeza, marcaram o público: a cena da ponte, da neve, do comboio ou até mesmo da praia. A sua história transmite com clareza a importância das memórias (principalmente as menos boas) e o quão preciosas estas podem ser para o nosso futuro, podendo deixar de ser apenas lembranças. O Despertar da Mente é, sem sombra de dúvidas, um filme inspirador que toca qualquer um que o assista e digo com toda a certeza que, por mais dolorosa que a sua mensagem seja, escolho nunca apagá-la da minha mente. Assim como todas aquelas lembranças menos boas que, ao mantê-las comigo, me vão ajudar a crescer como pessoa e a viver sempre em torno de um brilho eterno com lembranças.
Informação Adicional:

Diretor: Michel Gondry
Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Mark Rufallo, Kristen Dunst, Elijah Wood
Género: Romance/ drama/ ficção científica
Duração: 108 min.
Classificação: 8,5/10
Frase favorita: I though I knew her so well but I don't know her at all. What a loss to spend that much time with someone only to find out that she's a stranger.
How happy is the blameless vestal's lot! / The world forgetting, by the world forgot / Eternal sunshine of the spotless mind! / Each pray'r accepted, and each wish resign'd.
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