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BLACK SWAN (2010)


Até onde o perfeccionismo nos pode levar?


Este é o primeiro thriller/ terror psicológico que trago para o blogue; não por não apreciar o género, mas por ser um dos poucos filmes de suspense que eu realmente gostei e que me colou ao ecrã do início ao fim. É um filme cuja história retrata a arte, a forma, a expressividade e a busca obsessiva e auto-destrutiva pela perfeição. Em suma, Cisne Negro é um dos ensaios experimentais mais poderosos e belos do mundo cinematográfico, no qual o artista respira e incorpora intensamente a arte na qual está inserido.


A película dá-nos a conhecer Nina Sayers, uma jovem bailarina obcecada pela perfeição e influenciada pela sua mãe, uma ex-bailarina frustrada que deposita toda a pressão na filha. A sua vida como artista muda quando se torna na primeira escolha para interpretar a protagonista d'O Lago dos Cisnes, um dos mais célebres espetáculos de dança cujas personagens principais são o Cisne Branco e o Cisne Negro. O grande desafio para Nina é, na verdade, interpretar o Cisne Negro por apresentar características exatamente opostas à da personagem. Assim, Nina vai desenvolver uma "competição" psicológica com a nova dançarina, Lily, que personifica o Cisne Negro com mais intensidade e que parece querer a todo o custo roubar-lhe o papel. A rivalidade entre as duas fará nascer um sentimento obsessivo em Nina e o lado obscuro presente na mesma virá ao de cima.


Este é o filme que melhor descreve a direção de Darren Aronofsky. Black Swan constitui simultaneamente a parte psicológica, bem como as fortes emoções e até mesmo o delírio que é viver. Darren conseguiu criar um thriller engenhoso com cenas intensas que retratam muito bem os limites físicos e psicológicos do ser humano quando este adquire uma ideia completamente obsessiva da qual não se consegue livrar. Ao longo do filme, o espectador vai tendo vários vislumbres das alucinações de Nina, muitas delas desencadeadas pelo supercontrolo e proteção da sua mãe, da pressão do seu diretor, Thomas Leroy, que utiliza o assédio para motivar as suas bailarinas e pela sua nova rival, Lily, que é, na verdade, a antítese de Nina: imperfeita mas livre. As suas alucinações são tão complexas e bem reproduzidas que o espectador muitas vezes duvida do caráter real, nomeadamente nas cenas de auto-mutilação, aparições e até desejos sexuais que a própria Nina desconhecia ter. Tudo isto origina uma série de questões. Será Lily real? Ou será ela um demónio fruto da imaginação de Nina?



[AVISO: SPOILER]

Ora, o que se conclui no final é que Lily e Nina são exatamente a mesma pessoa sem tirar nem pôr. E o público chega a essa conclusão da maneira mais supreendente e bela: no grande espetáculo d'O Lago dos Cisnes. Com danças encantadoras, uma banda sonora incrível e uma história intensa, Darren proporciona um trabalho sonoro fenomenal, procurando sempre valorizar os pequenos detalhes para que o espectador se envolva ainda mais na paranóia que se encontra a cabeça de Nina: o som das asas a bater, o sangue a esvair-se, os vidros, o piano. Assim como o som, a imagem é algo a louvar: a forma como a câmara percorre cada movimento de Nina reforça a sua fragilidade e inocência antes de se tornar no grande Cisne Negro que, com uma maquilhagem incrível - destacando-se os grandes olhos avermelhados - consegue causar um efeito obscuro na personagem que contrasta com o Cisne Branco - apresentando um vestuário e uma maquilhagem simples e claros. Gostei também da paleta de cores na qual Darren se baseou para a realização do filme: o contraste entre o preto e o branco reforça as duas personagens mais importantes do enredo e os diversos cenários amplos contribuem para uma melhor ideia de espaço.


Mas se há coisa que é de se louvar em todo o filme é a fantástica interpretação de Natalie Portman que surpreendeu os olhares de todo o público e que representou uma personagem à qual se entregou por completo: além de ter aprendido a dançar - chegando a magoar-se muitas vezes em cena - proporcionou cenas mais ousadas do que aquilo que o cinema convencional está habituado a ter. Natalie conseguiu transmitir a inocência, a ingenuidade e a insegurança presentes em Nina de forma quase perfeita e simultaneamente promoveu o lado desafiante, libertador e obscuro presentes, interpretando duas personagens distintas no mesmo corpo e tornando-se numa das melhores interpretações alguma vez vistas que lhe valeu um Óscar.



O enredo e a direção são excelentes, Darren fez um ótimo trabalho na realização do filme; o suspense é um tema extremamente complexo e ele conseguiu utilizá-lo da melhor forma. O ponto forte, porém, são as personagens. Além da sua mãe protetora e do seu diretor exigente a personagem Beth (interpretada por Winona Ryder) é muito interessante: uma (recente) ex bailarina que deposita nela mesma os arrependimentos e o sentimento de culpa por se ter deixado levar pelos limites físicos do ser humano; provando que o auge do sonho e da esperança tem sempre um fim.


Assim, Black Swan é um filme que, assim como a protagonista, possui uma direção extremamente perfeccionista em todos os aspetos. O espectador parte desde o seu início numa longa viagem psicológica desafiante que testará os limites do ser humano. O perfeccionismo pode levar ao desgaste físico e mental e as alucinações presentes nele far-nos-ão duvidar da veracidade daquilo que está à nossa volta. Com interpretações incríveis, metáforas importantes e uma história fantástica, Back Swan é um filme que, assim como Nina Sayers, conseguiu atingir a perfeição.



Informação Adicional:

Direção: Darren Aronofsky

Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Winona Ryder, Barbara Hershey

Género: Thriller/ Terror psicológico

Duração: 108 min.

Classificação: 8,5/10

Frase favorita: Perfection is not just about control. It's also about letting go. Surprise yourself so you can surprise the audience. Transcendence! Very few have it in them.

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